terça-feira, 24 de novembro de 2015

O DIA SEGUINTE



Texto produzido em 2012.

Amanhecer a uma perda é a maior afirmação possível de amor à vida. Diante de uma grande dor, pode parecer mais fácil e seguro fazer pactos com a tristeza do que com a alegria. Há quase 20 anos perdi minha mãe. Ela morreu de câncer, aos 50 anos, depois de quatro meses de muito sofrimento físico e emocional para ela e todos nós à sua volta. Lembro-me de ter ido de branco ao enterro, num macacão hippie, meio transparente, com uns bordados prateados na altura do peito. Era meio-dia de um domingo de agosto, de sol forte, de seca. Tinha uma frase na lápide dela que durante anos me assombrou: “Ela foi voluntariamente a última das servas do Senhor”. Isso inscrito num mármore preto, com um crucifixo prateado em cima. Lembro ainda de uma árvore retorcida do Cerrado na beira do túmulo e de um buraco cavado no chão tão fundo, que me dava a sensação de que ia até o outro lado do mundo...



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10 comentários:

  1. Que lindo texto Marina. Demorei um pouco pra perceber que era sua mãe. Você é a cara dela. Tem a mesma voz e fala do mesmo jeito. Que lindas são vcs duas. Penso e sinto como seu Bebe.... E amanhecer depois de uma grande perda é muito muito difícil. Um beijo querida

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  2. Muito lindo. E é bom perceber que o nosso processo de autoconhecimento não termina nunca. Sempre é tempo de reviver as emoções e dar-lhes novos rumos. E o sorriso da sua mãe, esse ficou com você. Dá para ver todos os dias. Bjs

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  3. Pati, sempre me emociono com seu jeito de viver. Você me inspira. Sua mãe é metade você, metade Leninha... :-) Beijos!

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  4. Lindo texto, amiga. Emocionante. Me fez chorar. Quando eu crescer, quero ser como vc. Beijos!

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  5. Oi Marina!! Que imagens
    Bonitas! Lindo texto. Fiquei com muita saudade da nossa infância, de todos vcs!!
    Grande beijo
    Fernandinha da Tatá

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    Respostas
    1. Oi, Fernandinha!!

      Nós também ficamos com muitas saudades! Estava comentando hoje com a Leninha como era legal comprarmos papel de cartas juntas, lembra?

      Dê notícias!

      Beijos

      Marina

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  6. Marina, que bom saber que poderei te ler aqui. Fiquei comovido com o texto e espero que o amanhecer te encontre em paz, pronta para viver com alegria e serenidade. Beijão. Lourenço

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  7. Pois é...esse foi um texto que saiu difícil. Terminei de escrever no dia do meu aniversário de 37 anos e depois fiquei um ano, sem conseguir colocar uma única linha para fora. Os próximos já pulam para 2013 até chegar nesse 2015 duríssimo!

    Beijos e obrigada pelo carinho!!

    Marina

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  8. Peço licença para reproduzir um comentário do meu tio Vitinho (ele autorizou) que me chegou por email depois da publicação desse texto:

    "Bochechão,

    Engraçado, não me lembrava da sua mãe novinha, como ela esta no vídeo. Minhas lembranças dela são as mais recentes nem por isso deixam de ser alegres.
    Minha lembrança maior é nós, sua mãe e eu, dançando valsa num aniversário dela, na sua casa.Ela estava radiante sorrindo como só ela sabia. Aquele riso que vem do fundo da alma, espontâneo. A Lícia, tirou a foto que até hoje tenho guardado.
    Acho bom recordar dessa forma.Talvez seja até uma fuga para ao menos tentar esquecer aqueles momentos menos alegres. Achei bom você colocar no papel seus sentimentos em relação a perda.Acostumar-se com tal sentimento não é fácil não.
    Até hoje não me acostumei.Já me peguei várias vezes fazendo compras no super mercado e comprando coisas para o Vitão e a Dona Odete.Aqui em casa pode faltar tudo, menos o papel toalha em rolo (coisas da minha mãe).
    Convivi a vida toda com o estigma da perda. O falecimento do Vigni, marcou sobremaneira toda a família. A fuga do Victor de Goiânia para Brasília, tentando esquecer aquele sentimento que é inesquecível. O Vicente querendo fugir de tudo isso indo morar no Rio, mas não se desgrudando de Brasília e vai por ai a fora. Já estou aqui em Goiânia a quase dez anos. Até hoje não fui ao Cemitério Santana,ver como esta ou se esta, o túmulo do Vigni. creio que minha vinda para cá (Goiânia) , tenha tudo a ver com isso. Talvez querer resgatar o impossível. Os bons momentos vividos por Videte, Vitinho, Vicente e por que não, Vigni.E naquele tempo a barra era pesada, não se tinha os recursos de hoje. Mas éramos felizes, ou, éramos todos.

    Beijão do Titiuuu"

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  9. Difícil atravessar a escuridão e amanhecer para um novo dia com a escolha de viver na alegria... Mas sei que você escolherá o caminho da alegria, porque essa é a sua identidade... Sempre a admirei, cada dia admiro mais, mulher forte e de uma doçura encantadora... Parabéns pelo blog e pela pessoa que você é.... Grande beijo ! Juliana Pires

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